É frequente termos cenários clínicos onde temos diversas opções terapêuticas disponíveis, não apenas duas. Nesses casos, ocasionalmente metanálises comuns de ensaios clínicos não nos darão informações completas sobre qual seria a melhor opção de tratamento.
Nesses cenários entram as metanálises em rede, ou metanálises de comparações múltiplas. Em inglês, são chamadas de Network Meta-analysis, Multiple Treatment Meta-analysis, ou ainda Mixed Treatment Comparison (MTC). Ao invés de termos análises comparando apenas A versus B, nós também podemos ter estudos comparando A versus C, B versus D, e assim por diante.
Para compreender o conceito de MTC, antes precisamos falar de comparações indiretas. Quando temos três alternativas concorrentes, e temos estudos comparando duas delas a um controle em comum, podemos deduzir um efeito relativo entre as duas através de uma comparação indireta. Já quando “misturamos” essas evidências e usamos tanto as comparações diretas disponíveis como também as comparações indiretas, aí sim temos uma MTC.
Todo o rigor metodológico necessário para uma metanálise tradicional também deve ser aplicado na construção de uma metanálise usando comparações múltiplas. Além disso, para que possamos conduzir uma metanálise em rede usando MTC, precisamos sempre de três condições:
- O pressuposto de similaridade entre as comparações é plausível;
- As metanálises em pares não mostram heterogeneidade relevante;
- A rede de estudos não mostra inconsistências relevantes.
Embora esse tipo de metanálise tenha se tornado mais frequente na literatura, ainda parece haver necessidade de orientações mais claras sobre quando e como conduzir uma MTC; artigos recentes têm se debruçado sobre questões metodológicas e sobre a qualidade dos dados publicados, mas ainda não há diretriz consensual sobre a metodologia.
Em junho de 2015, após uma detalhada revisão sobre qualidade e descrição metodológica de artigos publicados e de recomendações de especialistas, foi publicada uma extensão do PRISMA Statement especialmente voltada para revisões sistemáticas que usem metanálises em rede.
Para conhecer um pouco mais sobre comparações indiretas e metanálises em rede, elaboramos uma série de textos explicativos:
- Parte 1: Metanálise de Comparações Indiretas
- Parte 2: Metanálise Comparando Múltiplas Opções Terapêuticas
- Parte 3: Pressupostos para uma Metanálise em Rede – Homogeneidade, Similaridade e Consistência
- Parte 4: Interpretando os Resultados de uma Metanálise de Comparações Diretas e Indiretas
Se você quiser se aprofundar mais no assunto, temos um curso avançado inteiramente dedicado a revisões utilizando comparações indiretas, trazendo conceitos teóricos, metodologias de análise, e exercícios práticos utilizando o software R.