Os estudos clínicos são fundamentais para a demonstração da segurança de curto prazo, eficácia, efetividade e segurança de longo prazo das intervenções em seres humanos. No entanto, a efetiva comprovação de cada um desses tipos de desfechos não acontece em um único estudo. Tipicamente, uma sequência de estudos, randomizados e não-randomizados, ao longo de vários anos, é necessária antes que um tratamento possa ser disponibilizado para as pessoas a quem se destina.
Aqui, um comentário sobre alguns conceitos comumente utilizados em pesquisa clínica. Em primeiro lugar, o termo “clínico” se refere a pesquisa realizada diretamente com pacientes. Na medicina, pesquisa clínica é sinônimo de pesquisa com seres humanos, em oposição à pesquisa pré-clínica, que é realizada com animais ou com experimentos in-vitro (reações físico-químicas, culturas de células, etc.). O termo “ensaio” é utilizado como sinônimo de “estudo”. Assim, os termos “ensaio clínico” ou “estudo clínico” referem-se a pesquisas em seres humanos, independentemente do delineamento de pesquisa (observacional ou experimental), embora muitas vezes se utilize o termo “ensaio clínico” como sinônimo de “ensaio clínico randomizado”. Por fim, o termo “ensaio clínico randomizado” refere-se a um delineamento de pesquisa específico, em que seres humanos recebem diferentes intervenções que lhes são alocadas aleatoriamente (por sorteio, sem interferência do investigador), em contexto experimental (presença de grupo controle e 1 ou mais grupos experimentais).
As fases da pesquisa clínica referem-se à sequência de estudos que são necessários para levar um tratamento ao uso na prática clínica. Esse conceito originalmente surgiu para o desenvolvimento de fármacos, mas foi extrapolado para outros tipos de estudos.
Fase 1
Estudos de fase um são a primeira fase em testar uma nova intervenção em seres humanos. Eles geralmente são pequenos, com apenas 10 a 30 pessoas, e eles podem incluir voluntários saudáveis ou aqueles com doença. Os objetivos dos estudos nessa etapa são: identificar uma dose tolerável, fornecer informações sobre o metabolismo e excreção da drogas e coletar informações sobre toxicidades. Frequentemente, os estudos de fase um não possuem grupo controle (estudos transversais, séries de casos ou coortes não controladas).
Fase 2
Os estudos de fase dois são ligeiramente maiores (30 a 100 participantes). Nessa etapa são coletadas as primeiras informações sobre a eficácia, mas o foco seguem sendo os eventos adversos e a segurança. Os ensaios de fase dois são por vezes controlados e por vezes não controlados, não necessariamente randomizados.
Fase 3
Os ensaios clínicos randomizados publicados que demonstram ou não a eficácia de intervenções na área da saúde são tipicamente estudos de fase três. Essa é a etapa de aprovação final para fármacos. Estudos fase três geralmente envolvem 100 ou mais pessoas (frequentemente milhares), e seu objetivo é avaliar a eficácia e segurança. Caracteristicamente, os ensaios de fase três são controlados e quase sempre são randomizados. As fases um e dois são geralmente consideradas as etapas de aprendizagem de ensaios clínicos, e a fase três é considerada a fase de demonstração.
Fase 4
Estes são estudos de uma droga ou dispositivo após a aprovação do mercado. O objetivo dos estudos de fase quatro é verificar como uma intervenção funciona no mundo real e examinar a segurança a longo prazo. Estudos de fase quatro estudos são frequentemente observacionais (estudos de coorte, registros), mas às vezes são ensaios clínicos randomizados.
Embora muitas vezes os próprios autores incluam na descrição do estudo a etapa a que ele pertence no desenvolvimento de um tratamento (ex.: “esse é um estudo fase dois…”), na maioria dos casos cabe ao leitor contextualizar o estudo que lhe chega às mãos. E para tomada de decisão junto aos pacientes, os estudos mais relevantes são os estudos fases três e quatro, principalmente os estudos fase três.
A vantagem dos estudos fase IV que eles permitem acompanhar os efeitos dos medicamentos a longo prazo.